sexta-feira, 18 de julho de 2008

Foto 3X4

Com 10 anos, o despertar sexual.

Você sabe que todos os garotos querem aquela gostosa da rua.

Quatorze, magrinha, com seios já apresentando o lindo desabrochar da puberdade que torneava as pernas e condecorava aquele belo bumbum. O melhor é que os caras haviam me falado que ela já transava!

Nossa, eu achei aquilo demais!

Como era madura, linda... A mulher da minha vida.

Viu como criança supera rápido? Só havia um ano e pouco que a outra mulher da minha vida havia se mostrado uma bela vaca e eu já estava lá pensando em outra. Tudo era bem mais simples nessa época.

Quanto mais a gente fica velho, mais pensamos que a cada erro devemos nos submeter ao sofrimento como uma forma de ritual após o aprendizado. Mas creio que deveríamos fazer o oposto. Teríamos que sofrer cada vez menos, para aprender com os erros e superar os traumas em pouco tempo. Até porque, quanto mais o tempo se passa, mais devemos aproveitar o que resta dele..

E se simplesmente deixássemos a auto-piedade de lado, aprendêssemos com os erros e seguíssemos em frente sem sofrimento? É possível. E pra falar a verdade, muito mais saudável e prazeroso, apresar da frieza que esse ato exige.

Mas voltando à Camila, minha paixão por ela era algo menos infantil. Já havia aquele desejo carnal, mas nada que superasse o desejo de tê-la comigo, com afeto recíproco. Era tudo o que eu queria.

A irmã dela, a Thaís, era da minha idade e, como minha amiga, tinha que me dar uma força. Criou-se um vínculo imaginário onde eu deixava de ser só mais um amiguinho e passava a ser o amigo que gostava da irmã dela.

Me lembro até hoje quando a Thaís apareceu aqui em casa dizendo que tinha um presente pra mim. Eu fiquei doido pra saber o que era, pois, sem dúvida era algo relacionado à Camila.

Ela fez um draminha pra entregar só pra me deixar doido de curiosidade, mas depois ela ficou mais séria e estendeu a mão fechada dando indícios de que o “presente” estava ali. Naqueles milésimos de segundos eu consegui pensar em milhões de possibilidades. Até que ela finalmente abriu a mão e eu vi.

Era o melhor presente que alguém podia ter me dado: uma foto 3X4 da Camila!

Tornou-se um ritual beijar a foto todo dia antes de ir pro colégio. Toda vez que ela passava pela rua eu a cumprimentava e, assim que ela estava de costas, eu olhava pra foto e suspirava. Sentia aquele frio na barriga, falta de ar, ficava exaltado e bobalhão.

Certa vez o pessoal da rua se reuniu lá em casa para jogar “verdade ou conseqüência” (ou algum outro jogo parecido) e, chegou um momento em que alguém disse que a Camila teria que me beijar.

Minha barriga gelou e eu fiquei completamente sem reação.

Ela me puxou pela mão e me arrastou pro banheiro, fazendo gracinha com o carinha que ela pegava de vez em quando na época.

Como eu saquei que ela estava só de brincadeira, nem criei muitas expectativas.

Quando estávamos trancados no banheiro, ela vira em direção à porta e começa a fazer barulhos e fingir que estava dando uns amassos.

Me olhei naquela situação e fiquei puto comigo mesmo. Não mais passaria por qualquer outra situação humilhante parecida.

Depois daquele teatrinho eu passei a vê-la com menos encanto, até que um dia, o que eu pensava sentir simplesmente havia sumido.

Essa é uma grande vantagem das crianças... Quando elas esquecem, parece que nunca aconteceu. Não guardam mágoas tolas.

É difícil acreditar que isso tudo um dia parecia importante.

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